segunda-feira, 28 de março de 2011

Pérolas da Maratona

“Um maratonista genuíno pertence realmente a uma raça aparte. É meio atleta, meio poeta. É um pragmático duro como a rocha, mas também é um idealista que vive no céu. E, mesmo podendo ser um rebelde individualista, nunca deixa de ser parte de um grupo quase tribal nos seus rituais e aspirações”.

Quem escreveu foi Joel Homer, quem sorriu ao lê-lo foram milhares pelo mundo inteiro. Eu li-o depois de um amigo mo ter enviado com uma dedicatória que me honra por ter sido de mim que ele se lembrou. Também ele tem o fogo da maratona. Só ainda não a teve debaixo dos pés, mas o plano já existe. Um plano soberbo.

Como soberbo é o que vão poder ver a seguir. Procuro-o sem sorte há meses e falo dele sempre com a mesma admiração. É o final da maratona de Chicago em 2010. É uma louca batalha onde dois campeões (Wanjiru e Kebede) não dão tréguas aos seus adversários nem aos limites do seu corpo. Quem ganhasse levava para casa 75 mil dólares pela vitória na prova, mais 500 mil dólares por arrebatar o título das World Marathon Majors. Hoje, finalmente, consegui descobrir o filme. Não tem o sprint final completo, mas 6 minutos e 51 segundos são uma extraordinária amostra. Não tem a mesma emoção de quando vi em directo, mas é o mais rápido jogo de xadrez que alguma vez vi. Vejam com som.


Segunda-Feira, 28 de Março de 2011

domingo, 27 de março de 2011

Impossible is (almost) nothing

A duas semanas de soar nos Campos Elíseos o tiro de partida para a Maratona de Paris, fiz na manhã de hoje um treino composto. Pelo meio ficou a 8ª Corrida de Solidariedade ISCPSI / APAV, antes e depois foi fazer quilómetros para tentar chegar aos 25 que estavam no cardápio.

Quando iniciei a prova em Alcântara, era excelente o feeling. Talvez viessem aí os melhores 10k de sempre. Assim, comecei forte e ao segundo quilómetro juntei-me ao Victor Silva e mais tarde agrupámos com o Rui Marques e o Rui Lacerda. Depois do retorno, defendemo-nos do vento que vinha de frente colando-nos a um pelotão maior, mas à passagem da légua percebi que o ritmo a que eu andava nos primeiros 4k (4:08 / 4:08 / 4:09 / 4:08) tinha caído para 4:14.

Nesse momento, conclui que resguardar-me do vento não podia ser a táctica. Meti mais agressividade, isolei-me e o k6 já foi feito a 4:12. Mas seria sol de pouca dura, pois os seguintes 2.000 metros resvalaram para os 4:18 de ritmo. Estava ainda em cadência de recorde, mas tudo dependia de conseguir ultrapassar rapidamente aquela fase menos rápida.

Foi boa a reacção, pois os dois últimos quilómetros tiveram ritmos de 4:08 e 3:52 e asseguraram-me um novo PB. Com um tempo de passagem de 41:41 aos 10 bati os 42:46 da última São Silvestre da Amadora. E, com esta marca, estreei um novo pensamento na minha relação com o cronómetro: “baixar os 40 minutos aos 10 já não tem que ser uma impossibilidade”.


Domingo, 27 de Março de 2011

sábado, 26 de março de 2011

Na melhor das alturas

Na Quinta-Feira não consegui tempo para as séries de 800. Assim, porque me sentia fisicamente mais disponível, ontem decidi que os meus 15k no Jamor eram para ser feitos com intensidade.

Subi por detrás do Alto de Rendimento até ao estacionamento do Golfe e voltei à pista no que foi um período mais calmo do treino (1.800 metros a um ritmo médio de 5:23). Mas logo que os pés sentiram o tartan, corri para só acabar 33 voltas depois. Corri sozinho, feliz, durante 13.200 metros e a um ritmo médio de 4:31.

Já no duche, depois de 69’ 30” ao sol da hora do almoço, chegou-me a frase à cabeça: “Paris está perto na melhor das alturas”.


Sexta-Feira, 25 de Março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os Anjos Malvados

Pareceu-me próprio dizer que eles são uma espécie de deputy technical advisors. É a eles que, por uma questão de personalidade, experiência ou capacidade, a Rita Borralho pede para preencherem uma ou outra ausência ou desempenharem uma ou outra missão do time. Por uma questão de facilidade, gosto de dizer que são os DTA’s.

Ontem cheguei ao Monte da Galega para um aquecimento fácil e o Paulinho Costa já andava a rodear a pista. Juntei-me. O Paulinho é sempre simpático, sempre solícito. O pior foi quando me apercebi que, terminado o aquecimento e no meio da conversa, tinha andado vinte minutos a uma média de 4:40.

Passei depois para as séries. Iam ser quinze de 400 metros e até comecei mais rápido do que devia (82”). Mas depois compus-me e fui regular (85”, 87”, 88”, 88”, 86”, 85”, 86”, 86”, 85”, 85”, 85”, 84”, 84”). À entrada da última repetição, chega-se o Alexandre Monteiro, com a habitual abordagem serena dos DTA’s: “faço esta contigo”. Resultado: fechei a 78” e com a língua a chegar ao queixo.

Mas, enfim, só tinha que rolar muito calmamente durante mais uns dez minutos. Para descontrair. Foi aí que apareceu o Manuel Proença. Como sempre, insuperavelmente agradável e esplendidamente interessado, mas no fundo mais um daqueles anjos malvados que o Ente Superior enviou com o objectivo de te levarem a um estado de combustão física. E tu, que querias simplesmente amaciar os tendões antes do banho, dás por ti a esgaçar atrás dele (que ainda por cima corre muito) e a descobrires o que é na realidade a dor de burro.

Hoje inverti posições e levei o Pedro Jaime, um amigo que corre mas ainda não faz corridas, para 15k no Jamor. Mas, ao invés de me sentir vingado, sinto-me ainda mais exausto. Pela pista do corta-mato acima e abaixo, é como se tivessem andado os DTA’s por ali.


Quarta-Feira, 23 de Março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Morreu um dos nossos

Nunca falei com o José Santos. Cruzei-me com ele duas vezes na pista e no balneário do Centro de Alto Rendimento do Jamor. Estava com o filho e a filha. “Ele é maratonista e eles estão no Benfica”, disse-me a Rita Borralho a meio de um treino de séries, faz amanhã 3 semanas.

Ontem o José Santos morreu. Atropelado por um autocarro em Cascais. Enquanto treinava. Ponho-me a imaginar que ele estava a fazer um treino longo para a sua próxima maratona e a afinidade faz-me sentir ainda mais triste.

Habitualmente, faço os treinos de descompressão no Jamor. Mas hoje falta lá um dos nossos. Que fique em descanso e que a sua família consiga descobrir o melhor caminho numa vida que ficou agora mais pobre.


Segunda-Feira, 21 de Março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

O tri-quase-tetra

Três quilómetros transcorridos na 21ª EDP Meia-Maratona de Lisboa e já o plano estava fora de controlo. O andamento era rápido demais, tal como o que eu utilizaria para uma prova de 10k. Por isso, após parciais de 4:13, 4:11 e 4:12, decidi-me a aproveitar a descida para Alcântara e o primeiro abastecimento para entrar nos eixos. Foi então que, ao quinto quilómetro (passagem a 21:19), o Manuel Proença se juntou a mim e ao Victor Silva: “Para andar a quanto? A 4:30? Vamos lá então, concentrados na prova”.

Nos quilómetros seguintes, foi-se dissipando o receio de que aquela partida descontrolada pudesse comprometer toda a corrida. Não é que tenhamos abrandado para o planeado (aliás, o tempo de passagem aos 10k ficou a meros 25” do meu recorde para aquela distância), mas sobretudo porque me estava a sentir confortável naquela passada mais rápida.

Só a partir do 12º quilómetro é que começámos a andar nas redondezas dos 4:30 de ritmo. Mas o decréscimo no andamento não frustraria o primeiro objectivo do dia: novo PB dos 15k com 65’49” (menos 2’53” do que na Corrida do 1º de Maio de 2010).

Pouco depois começaria o período mais complicado. O retorno em Algés parecia nunca chegar e com o calor a fazer-se sentir, o isotónico na goela e a água na cabeça eram mais que providenciais. Aí, no k18, estava no pior da minha corrida, com o ritmo a cair para os 4:47. Vital era a presença RB um passo à minha frente, com o grande Proença a pautar a moral, a logística e a passada.

Ultrapassado o bidon, passei a visualizar a meta como objectivo. Os ritmos voltavam a melhorar (4:37, 4:31, 4:19…) e, no processo, batia o mais recente dos meus recordes. Há duas semanas conseguira 1:32:19 em Cascais e, desta vez, bastava-me 1:29:00 para fazer a minha melhor marca aos 20k.

Aí, já pouco faltava para ser tri-recordista nesta Meia-Maratona de Lisboa. Com um tempo de passagem de 1:33:46 aos 21.095 metros, retirava 5 minutos e 47 segundos ao meu melhor registo até então e esmagava completamente o meu PB à meia-maratona.

Em comparação com a edição de 2010, este ritmo de 4:26/k dava-me um tempo 9 minutos e 11 segundos mais baixo e uma subida de 764 lugares na classificação geral. Em comparação com a edição de 2010, tenho uma equipa onde se vivem os sucessos e os fracassos dos outros. E onde todos ajudam para que os primeiros aconteçam mais vezes que os segundos.


Domingo, 20 de Março de 2011

sexta-feira, 18 de março de 2011

Alta Categoria

Lembrei-me disto algures durante os 37’ de hoje no Jamor. Em comparação com a preparação para Berlim, estou muito mais sofisticado no que toca a lesões. Para já porque deixei de me queixar (seja como for, há para aqui sempre uma ou outra dor) e depois porque as canelites e as entorses abriram agora espaço para a chegada de um refinado Neuroma de Morton. Meto dinheiro que ninguém tem maleita mais bem baptizada.

Mudando de assunto: Wanjiru e Tadese ao despique na Avenida da Índia? A pena que eu tenho de perder isto na televisão e de ter que me contentar em pelo menos voltar a correr numa prova onde caiu um novo recorde mundial.


Sexta-Feira, 18 de Março de 2011

quinta-feira, 17 de março de 2011

A demolição

Sou um atleta de pelotão. Daqueles que raramente ficam nas fotografias, tão vasta é a companhia que toca ombros comigo à esquerda e à direita. Por isso mesmo, sou dos que ficam super-contentes quando, em pleno túnel de vento de Braço de Prata, conseguem fazer 3:49, 3:50, 3:44 e 3:45 numas séries de 1.000 metros. E porque há muito que andava arredado de tais tempos, posso até dizer que demoli a minha escala.


Quinta-Feira, 17 de Março de 2011

O Mirus

Depois de na Segunda-Feira ter auto-ministrado o treino de técnica de corrida (onde um aluno medíocre se transformou num péssimo professor) e de na Terça-Feira ter abatido 48” de tempo aglomerado em comparação ao último treino de 10x300 metros, marquei para esta Quarta-Feira treino no Estádio Nacional. Foram 12k na companhia de um atleta do passado / amigo da vida toda.

Dantes, quando treinava quase todos os dias, o Pedro nem sequer tinha rabo. Hoje, trinta anos depois, deixou de ser o tipo que melhor vestia umas Levi’s 501. Mas, com 80 quilos, continua a ser tão empenhado na corrida como excelente na prosa.

Depois do nosso treino, decidiu fazer 14 parágrafos a explicar a experiência. Vestiu-os de exagero sobre a minha qualidade e sobre as suas dificuldades, mas sobretudo fez dos nossos 65 minutos um verdadeiro momento. Cá por mim, continuo a achar que ele é o Mirus Yifter dos bloggers portugueses. Um beijo grande e Sexta-Feira é à uma e um quarto junto ao Centro de Alto Rendimento.


Quarta-Feira, 16 de Março de 2011

domingo, 13 de março de 2011

São 30k para fazer Marina do Parque das Nações – Unhos – Sacavém – Moscavide – Marina – Poço do Bispo – Marina

00:53:16 - Passagem aos 10k com ritmo médio de 5:19 (Marina do Parque das Nações – Escola Básica de Unhos).

01:45:14 – Passagem aos 20k com ritmo parcial médio de 5:11 (Escola Básica de Unhos – retorno na Igreja de Unhos – Moscavide – Passeio do Sapal no Parque das Nações).

02:11:05 – Passagem aos 25k com ritmo parcial médio de 5:10 (Passeio do Sapal – Armazém 24 da Matinha).

02:36:02 – Conclusão aos 30k com ritmo parcial médio de 4:59 (Armazém 24 da Matinha – retorno na Doca do Poço do Bispo – Marina do Parque das Nações).

Média final de 5:14 com o melhor quilómetro a ser o último, com um ritmo de 4:39. A ideia era fazer um bom treino progressivo. Por isso, correu bem (e o depósito ainda tinha combustível para prosseguir num andamento certo).


Domingo, 13 de Março de 2011

sábado, 12 de março de 2011

O sortilégio do Monsanto

Estreei-me com 11:07, debaixo de um aguaceiro piorei para 11:16 e pensando que estava a fazer a melhor do dia acabei com 11:17. Em suma, não há modo de ter uma experiência completa nestes 2.700 metros de Monsanto. Salve-se que, não tendo conseguido meter velocidade na corrida, consegui desta vez uma relativa regularidade nos ritmos médios (entre os 4:08 e os 4:11 por quilómetro).


Sábado, 12 de Março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Pelas pistas do Jamor

Hoje, a satisfação veio com a troca do almoço por uma hora a ritmo lento no Estádio Nacional. Da pista de tartan à pista de crosse, passando pela terra batida que circunda a pista de canoagem, fui andando para fechar a um ritmo médio de 5:14.

Como nota à margem e mesmo sabendo que valores mais altos se levantavam, tenho que dizer-te que ficaste a perder e que ias adorar. Tens contudo hipótese de redenção na próxima 4ª Feira, pela hora do almoço.


Sexta-Feira, 11 de Março de 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Go, Pre!"

Tem sido uma semana em crescendo, onde no dia a seguir a um belo treino-estilo-montanha-russa voltei à pista para fazer a minha melhor sessão de séries longas (6 x 1.200) desde que estou a treinar para os 42 de Paris.

Com 4:36, 4:37, 4:39, 4:40, 4:34 e 4:37 foi uma difícil subida para um novo degrau. Mas porque quando corremos a nossa mente tem o condão de se pôr em fuga por aí, ajudou ter-me chegado a sentir como um Steve Prefontaine a negociar as curvas da pista: leve na passada e firme no sofrimento.


Quinta-Feira, 10 de Março de 2011 (imagem da autoria de The Happy Rower)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Dose tripla de Asparten, s.f.f.

Desde o princípio de Janeiro que uma boa meia-hora das minhas noites de Terça-Feira é entregue à definição do percurso para o treino semi-longo do dia seguinte. Ontem, enquanto me punha no www.mapmyrun.com a desenhar os meus destinos, meti na cabeça que queria subir. Queria naturalmente 15k equilibrados, mas queria que houvessem umas subidas cabeludas a meter exigência nas minhas pernas.

E assim foi. As subidas estavam sempre a aparecer (em Lisboa é inevitável) o que fez deste um treino de dentes cerrados. Parti do Velho Oriente da cidade, aproximei-me das Avenidas Novas e acabei no Parque das Nações. Foram 16.050 metros para um tempo de 82’ 38” e para sentir que parece estar a ressurgir o que eu já tinha quando há 5 semanas tive que parar por lesão.

Agora, venha uma dose tripla de Asparten, se faz favor. Amanhã há séries de 1.200 metros. E daqui por um mês e um dia há maratona em Paris.


Quarta-Feira, 9 de Março de 2011

terça-feira, 8 de março de 2011

A elite e o pelotão

Para minha surpresa, o Ornelas (no atletismo, quanto maior é o destaque mais se é tratado por um nome apenas) passou no Facebook e deixou um ok ao meu paleio sobre os 20 Kms de Cascais. É curioso ter acontecido agora e especialmente ter sido sobre uma corrida que ele ganhou de goleada. Aliás, estava ele a cruzar a meta e eu a fazer 13.500 metros de prova, só para que se veja a diferença de nível. Diferença esta que não o impediu de deixar um abraço a alguém que não conhece.

Mas isto é o atletismo. Nenhum outro desporto junta tão perto a elite e o pelotão. Como ainda esta manhã, quando na pista do Centro de Alto Rendimento do Jamor o Hermano, o Damião e o Ramos apanhavam a mesma chuva que eu e, por coincidência, faziam quase o mesmo programa (séries de 400). Eles (bastante) mais rápido, claro; eu durante mais tempo (foram 18 voltas à pista).

Last but not least, de cronómetro na mão e chapéu-de-chuva aberto, a Rita Borralho: a prova viva de que, dia após dia, a elite e o fundo do pelotão podem ter a reuni-los um fundo de admiração e ternura.


Terça-Feira, 8 de Março de 2011

De Cascais para o Jamor (com os olhos em Paris)

Depois de uma semana onde os dias de treino foram se desorganizando à custa do trabalho na agência, cheguei a Cascais e aos seus 20 Kms com a sensação de que tudo poderia acontecer: a ferrugem de não treinar desde Quarta-Feira poderia prender-me as pernas ou o descanso dos últimos três dias podia ter-me deixado no ponto certo. Felizmente, tudo andou mais perto deste último cenário.

Com um tempo de 1:08:49 aos 15k (a 7” do meu melhor) e com uma passagem pelos 20k aos 1:32:19 (PB), consegui aproximar-me da tranquilidade anímica que a um mês da Maratona de Paris me tem andado a escapar.

A 29 treinos de entrar num avião para terras de França, muito há ainda por fazer. A recomeçar daqui por umas horas no Jamor, com 18 séries de 400.


Segunda-Feira, 7 de Março de 2011