Inscrevi-me em Abril para a Ultra Maratona Caminhos do Tejo 57 k com
um propósito definido: fazer um test
drive para a Ultra Sierra Nevada, que iria ser corrida em condições de
muito calor e iria exigir um bom ritmo de corrida para não queimar barreiras
horárias.
Nessa altura, eu achava que 3
meses seriam mais que suficientes para me ver livre da fascite no pé esquerdo e
estava longe de pensar que o aquiles da perna direita se iria juntar ao menu.
Como os problemas continuaram, acionei o cancelamento da USN e troquei-a pela
EstrelAçor 100 na primeira semana de Outubro.
No meio da história, tinha-se
assim esvaziado a lógica deste UMCT 57 km (ou Maratona dos Caminhos do Tejo,
como também vi escrito no site oficial para diferenciar da prova maior de 144 k).
E como neste último mês já tinha feito uma 3-Dígitos e uma Ultra Média acabei
por pensar pouco nesta Santarém–Fátima de ontem.
Dou-me bem com o calor, por
isso ter que fazer a prova num dos mais secos distritos de Portugal não me
afetava a moral. Tinha contudo a ideia que a qualquer momento me poderia
perder, pois supostamente as fitas direcionais seriam escassas. No fim, à
conversa com o Francisco Monte, confessei que nunca tinha estado numa corrida
com um sistema direcional mais completo. Mas, até lá, procurei a segurança de
um grupo que me parecesse andar ao ritmo que eu queria (6:00/km).
Assim começámos, mas a passada
da Amélia Costa (com mais do que um UMCT no currículo) fez-me decidir
abandonar o nosso pequeno pelotão de 6 unidades. Estávamos por volta do k12 e
apenas um quilómetro tinha sido feito ao ritmo programado. É o que faz andar
com a elite (que viria a ganhar este UMCT 57k).
Ao k20, junto ao primeiro
abastecimento, tive que dar solução a um desarranjo intestinal. Foram quase 10’
no WC da Associação Recreativa de Melhoramentos de Santos. Mas saí melhorado
para uma corrida que recomeçou com o amigo Filipe Leite (um dos verdadeiros
guerreiros, que chegava a esta altura com 100k de uma batalha que o levaria a
quase 149k). Nota de redação: “calculo
que saibas que gosto muito de ti, mas trata-me desse humor, pá. Track, tracker
é quase o mesmo ou não?”.
Pouco depois do Arneiro das
Milhariças (k25) vem a primeira subida não corrível e até ao abastecimento dos
Olhos de Água faço sete quilómetros nos quais sinto que o calor (era uma da
tarde) está a afetar muito os companheiros que vou passando pelo caminho.
Saio sozinho dos Olhos de Água
e assim ando durante duas horas até chegar a Minde, ao k44. Sinto-me com boas
pernas e decido que não vou perder tempo no abastecimento: é encher os flasks e arrancar. Dois pequenos
pelotões estavam no meu ângulo de visão e ter a companhia de alguém pareceu-me
naquele momento um bom plano.
Já eramos sete a fazer a
última grande subida. Seriam 4k de ascensão para relaxar as pernas e para preparar
a última dúzia de quilómetros até Fátima. Junto às antenas no topo da subida,
decido isolar-me do grupo e tentar marchar o menos possível no resto do caminho.
Sabia que o que tinha por diante era quase sempre corrível e como estava bem de
pés (já não sabia mais o que dizer dos Hoka Speedgoat 2 mas agora tenho que juntar
que se portaram lindamente em oito horas e meia que até tiveram mais asfalto
que trilhos), assim fui até à meta.
Estiquei-me neste relato, mas
tinha muitas saudades de não falar de dores. E até fiquei em 9º (sim, eu sei
que eram só 25 à partida).
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