Não tenho uma
relação saudável com o meu corpo. Ponho-o frequentemente a jogo em momentos
muito errados e sobretudo faço-o porque acredito que a minha força anímica vai
compensar as falhas. E isso é estúpido.
É estúpido achar
que se fazem mais de 100 kms sem que a fascite se venha mostrar. Não é wishful
thinking, é pura irresponsabilidade. E como as primeiras dores chegaram ao
quilómetro 10, seguir-se-iam mais de 22 horas onde se andaria (muito) mais que
se correria. Para a próxima, Zé, pensa.
Neste sacrifício
gratuito que foi o Ultra Trail de São Mamede, o alívio surgia sobretudo dos
cerca de 4.300 metros de subidas, pois eram as únicas situações onde o
calcanhar não tinha que fazer contato com o solo. Em plano era o trote coxeado,
em descida era a pressão a assentar toda no metatarso. Nestas condições,
bastões poderiam ter ajudado (pelo menos 7 ou 8 em cada dez concorrentes tinha
tido essa ideia). Para a próxima, Zé, pensa.
E como quanto
menos se corre, mais se demora, terminei com 23 horas e 20 minutos uma prova
que já foi a-eleita-para-a-estreia-nos-3-dígitos e que agora tem pontos de
absoluta crueldade. Por mim, bastaria ter olhado para o novo percurso para ver
que não seria o dia ideal para deixar a humildade em casa. Para a próxima,
Zé, respeita. E pensa que és muito pouco em comparação com o que te rodeia.
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