quinta-feira, 14 de abril de 2022

Around and around and around...

Por um lado, tinha a ver com a curiosidade de lidar com um total incógnito. Estava claro que o conceito seria entrar num circuito de uma milha e fazer voltas e voltas e voltas. Isso eu sabia.
Já era a terceira edição destas 24 Horas a Correr de Mem Martins, pelo que nem me pedia queixar de falta de informação ou de ser um conceito inédito ou o que fosse. 
 
Mas de um de outro modo, esta prova-corrida-competição deixava-me com todas as dúvidas do mundo. Num percurso misto de asfalto e de (chamemos-lhe) trilho, o que deveria eu calçar? Correndo de noite e de dia mas não se justificando colete, deveria levar uma muda de roupa? Apesar de ter tido a lucidez de me inscrever nas 6 Horas e não nas 12 ou 24 (São Mamede 110 está por perto), qual deveria ser a estratégia de ritmos? Enfim, ainda me sentia pouco esclarecido quando às 6 da manhã a buzina soou para o início das voltas ao Parque do Algueirão.

Seis horas e um par de minutos mais tarde estava a arrastar-me para fechar a última das 31 voltas que ficaram contabilizadas para mim. 
 
No total, tinham sido 51.460 metros de vida a serem gastos por aquelas bandas. E uma estranha sensação de não estar significativamente muito mais esclarecido do que estava no princípio. O que é que se tinha passado mesmo por ali?
 


segunda-feira, 28 de março de 2022

Monsaraz em tom de Ultra Gin

Um mês certo depois dos 58 do Sicó e um mês e meio antes dos 110 de São Mamede, este último sábado foi dia de fazer 62 quilómetros entre prados e lagos pelo Alentejo. 

Nas primeiras horas da manhã andava-se junto aos prados que polvilhavam o primeiro terço deste até então francamente corrível Sharish Monsaraz Natur Trail.

Quando - segundo o excelente Matias Novo - os rostos já davam retratos à PT281, iam aparecendo os lagos para nos marcar o horizonte. E surgiam para nos assombrar num quase interminável sobe-e-desce que parecia não nos deixar abandonar nas últimas horas da prova um declive único à beira do Alqueva.

Em rescaldo desta ultra com nome próprio de gin, sentiu-se que a aproximação do mais exigente desafio que no Alentejo nos aguarda já não é tão acompanhada pelo receio de quem desde há 4 anos não entra em registo endurance. A ver vamos.

 

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

Deste Sicó até um ponto no horizonte

Penso várias vezes no Jorge Serrazina. Terá idade para poder ser um meu jovem pai ou os meus 52 anos não me deixam assim tão longe do que reza no B.I. dele?

Só me cruzei uma vez com ele. Estava humilde e simpaticamente a assegurar serviço num posto de abastecimento. Ou era nos Caminhos do Tejo ou no Caldas Ultra Trail, não me recordo. Mas tinha um ar cândido completamente ao avesso da fera dos trilhos que todos reconhecemos ser.

Enfim, penso às vezes nele pela idade e pela brutalidade de quilómetros que lhe entram nas pernas. Não terá lesões? Quanto treinará? Será ele uma exceção?

É que no meu caso - e viu-se agora nos 57k do Ultra Trail de Conímbriga Terras de Sicó - tudo é tãããããoooo difícil. Sim, eu sei que um ano inteiro de dores na inserção isquio-tibial e uma rotina que me põe mais na marquesa do fisioterapeuta do que de ténis calçados não poderá nunca ajudar.

Mas gostava de chegar um pouco mais longe. É que a minha cabeça e um conjunto de inscrições adiadas de 2020 para 2021 e depois para 2022 dizem-me que tenho umas histórias para escrever ainda este ano.

Enfim, fica para registo uma prova muito castigada pela chuva e três ou quatro horas finais de marcha rebocando um companheiro com bandeira do Luxemburgo a quem os 110kms da prova e a brutalidade da Cascata lhe estavam a queimar cabeça e pernas.