domingo, 17 de junho de 2018

Fátima se sente(a)


Inscrevi-me em Abril para a Ultra Maratona Caminhos do Tejo 57 k com um propósito definido: fazer um test drive para a Ultra Sierra Nevada, que iria ser corrida em condições de muito calor e iria exigir um bom ritmo de corrida para não queimar barreiras horárias.

Nessa altura, eu achava que 3 meses seriam mais que suficientes para me ver livre da fascite no pé esquerdo e estava longe de pensar que o aquiles da perna direita se iria juntar ao menu. Como os problemas continuaram, acionei o cancelamento da USN e troquei-a pela EstrelAçor 100 na primeira semana de Outubro.  

No meio da história, tinha-se assim esvaziado a lógica deste UMCT 57 km (ou Maratona dos Caminhos do Tejo, como também vi escrito no site oficial para diferenciar da prova maior de 144 k). E como neste último mês já tinha feito uma 3-Dígitos e uma Ultra Média acabei por pensar pouco nesta Santarém–Fátima de ontem.

Dou-me bem com o calor, por isso ter que fazer a prova num dos mais secos distritos de Portugal não me afetava a moral. Tinha contudo a ideia que a qualquer momento me poderia perder, pois supostamente as fitas direcionais seriam escassas. No fim, à conversa com o Francisco Monte, confessei que nunca tinha estado numa corrida com um sistema direcional mais completo. Mas, até lá, procurei a segurança de um grupo que me parecesse andar ao ritmo que eu queria (6:00/km).

Assim começámos, mas a passada da Amélia Costa (com mais do que um UMCT no currículo) fez-me decidir abandonar o nosso pequeno pelotão de 6 unidades. Estávamos por volta do k12 e apenas um quilómetro tinha sido feito ao ritmo programado. É o que faz andar com a elite (que viria a ganhar este UMCT 57k).   

Ao k20, junto ao primeiro abastecimento, tive que dar solução a um desarranjo intestinal. Foram quase 10’ no WC da Associação Recreativa de Melhoramentos de Santos. Mas saí melhorado para uma corrida que recomeçou com o amigo Filipe Leite (um dos verdadeiros guerreiros, que chegava a esta altura com 100k de uma batalha que o levaria a quase 149k). Nota de redação: “calculo que saibas que gosto muito de ti, mas trata-me desse humor, pá. Track, tracker é quase o mesmo ou não?”.

Pouco depois do Arneiro das Milhariças (k25) vem a primeira subida não corrível e até ao abastecimento dos Olhos de Água faço sete quilómetros nos quais sinto que o calor (era uma da tarde) está a afetar muito os companheiros que vou passando pelo caminho.

Saio sozinho dos Olhos de Água e assim ando durante duas horas até chegar a Minde, ao k44. Sinto-me com boas pernas e decido que não vou perder tempo no abastecimento: é encher os flasks e arrancar. Dois pequenos pelotões estavam no meu ângulo de visão e ter a companhia de alguém pareceu-me naquele momento um bom plano.

Já eramos sete a fazer a última grande subida. Seriam 4k de ascensão para relaxar as pernas e para preparar a última dúzia de quilómetros até Fátima. Junto às antenas no topo da subida, decido isolar-me do grupo e tentar marchar o menos possível no resto do caminho. Sabia que o que tinha por diante era quase sempre corrível e como estava bem de pés (já não sabia mais o que dizer dos Hoka Speedgoat 2 mas agora tenho que juntar que se portaram lindamente em oito horas e meia que até tiveram mais asfalto que trilhos), assim fui até à meta.

Estiquei-me neste relato, mas tinha muitas saudades de não falar de dores. E até fiquei em 9º (sim, eu sei que eram só 25 à partida).