sábado, 2 de novembro de 2024

Maratona M50, mk2

Desde há 6 anos que não havia drive para fazer duas Maratonas de Estrada em dois anos consecutivos. Fez-se agora, numa EDP Maratona de Lisboa 2024 que foi também a segunda maratona de estrada em modo M50.

Deu para descobrir que esta história de fazer maratonas com mais de meio século é uma luta totalmente diferente. É quase outro desporto. Quer-se mais, recorda-se que ainda há pouco tempo tudo parecia mais simples, mas chega-se a um momento em que se percebe que se se quiser ser competitivo e não andar a perseguir o inalcançável, teremos que assumir o bilhete para o Ranking dos Veteranos.
 
E assim se fez. Do princípio ao fim, com o erro de um início demasiado rápido e desde logo sabendo que os últimos quilómetros iriam ser em modo de arrasto.
 
Mas enfim, por alguma coisa isto é uma Maratona.   



sábado, 10 de fevereiro de 2024

As Linhas (de Torres) que a idade cose

Os últimos tempos já iam dando o sinal: menos treinos na semana para melhores sensações em prova. Relógio biológico, talvez. Para alguns serão apenas 54 anos, para mim é o que é: tudo a ter que ser feito com maior pausa e inteligência.

O último fim-de-semana deste Janeiro deixou-se marcar como a primeira ultra nestas condições. Foi no Linhas de Torres 100 na versão K45 (com partida e chegada no Sobral de Monte Agraço).

No geral foram pouco mais de 48k em pouco mais de 7 horas, com a esmagadora maioria do tempo na companhia do Rui Reis e do António Viegas, dois colegas destes escalões etários em que já se pode até falar de netos e outras transcendências que em muito se superiorizam à importância do tempo de chegada à meta.

No fim, cada vez mais uma ultra-maratona se vai resumindo a uma cabeça a fazer-se funcionar com vitalidade, pois as pernas já são apenas o que podem ir sendo.    


domingo, 5 de novembro de 2023

A Demora

Já datava de Fevereiro de 2018 a minha última maratona de estrada. Foi então que uma preparação mais ambiciosa do que o meu habitual me transportou de Sevilla para dois anos de fisioterapias e uma demora de cinco anos e meio até novos 42k pelo asfalto.  

E com uma muito soluçante rotina de treinos para esta EDP Maratona de Lisboa 2023 (onde a ausência de treinos longos foi caraterística marcante), ainda mais complicado se tornou este percurso entre Cascais e Lisboa. E demorado.   

Aliás, mais demorado do que alguma vez havia sido. Mesmo mais do que na minha estreia em 2010. Mas, quando chegamos à última semana antes da prova e nos questionamos se haverá capacidade para levar o esforço até ao fim, então o cronómetro passa a ser marginal. E a meta é tudo o que queremos ver. Foi vista, felizmente. 

 

sexta-feira, 17 de março de 2023

Por Terra(s)

Comece-se pela não-justificação, mas que sempre acaba por passar-nos pela cabeça: há quase um ano que nada parecido com esta quilometragem me passava por corpo num dia apenas.
 
Depois, na semana anterior a este Terras do Ancião Ultra Trail, tinha-se dado a miserável coincidência de ter feito em redor de 4 ou 5 horas por cada noite de sono. O que nunca seria uma ajuda para uma prova que arrancava à uma da madrugada e que seria em muito acompanhada por um headlamp na cabeça. 
 
Contudo, e sobretudo no troço entre os 18k e os 30k, a luta foi contra a cabeça que me impelia a deixar-me ficar pelo PAC que sinalizava mais ou menos o meio da prova. Não queria. Não queria mais.
 
Ali cheguei com um forte avanço para a barreira horária, o que me dava lastro de tempo suficiente para me deixar cair numa cadeira, para comer demoradamente a sopa-que-como-sempre-a-correr e para sair para a manhã que me esperava junto ao Anjo da Guarda.
 
Daí até ao fim dos mais de 61k, foi mais um arrastar do que um correr. Enfim, mais um déjà vu destes anos após anos em que me atiro à primeira Ultra depois de um longo período de muito pouca coisa que seja palpável. Uma primeira Ultra neste 2023 que quase me deixou por Terra.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Around and around and around...

Por um lado, tinha a ver com a curiosidade de lidar com um total incógnito. Estava claro que o conceito seria entrar num circuito de uma milha e fazer voltas e voltas e voltas. Isso eu sabia.
Já era a terceira edição destas 24 Horas a Correr de Mem Martins, pelo que nem me pedia queixar de falta de informação ou de ser um conceito inédito ou o que fosse. 
 
Mas de um de outro modo, esta prova-corrida-competição deixava-me com todas as dúvidas do mundo. Num percurso misto de asfalto e de (chamemos-lhe) trilho, o que deveria eu calçar? Correndo de noite e de dia mas não se justificando colete, deveria levar uma muda de roupa? Apesar de ter tido a lucidez de me inscrever nas 6 Horas e não nas 12 ou 24 (São Mamede 110 está por perto), qual deveria ser a estratégia de ritmos? Enfim, ainda me sentia pouco esclarecido quando às 6 da manhã a buzina soou para o início das voltas ao Parque do Algueirão.

Seis horas e um par de minutos mais tarde estava a arrastar-me para fechar a última das 31 voltas que ficaram contabilizadas para mim. 
 
No total, tinham sido 51.460 metros de vida a serem gastos por aquelas bandas. E uma estranha sensação de não estar significativamente muito mais esclarecido do que estava no princípio. O que é que se tinha passado mesmo por ali?
 


segunda-feira, 28 de março de 2022

Monsaraz em tom de Ultra Gin

Um mês certo depois dos 58 do Sicó e um mês e meio antes dos 110 de São Mamede, este último sábado foi dia de fazer 62 quilómetros entre prados e lagos pelo Alentejo. 

Nas primeiras horas da manhã andava-se junto aos prados que polvilhavam o primeiro terço deste até então francamente corrível Sharish Monsaraz Natur Trail.

Quando - segundo o excelente Matias Novo - os rostos já davam retratos à PT281, iam aparecendo os lagos para nos marcar o horizonte. E surgiam para nos assombrar num quase interminável sobe-e-desce que parecia não nos deixar abandonar nas últimas horas da prova um declive único à beira do Alqueva.

Em rescaldo desta ultra com nome próprio de gin, sentiu-se que a aproximação do mais exigente desafio que no Alentejo nos aguarda já não é tão acompanhada pelo receio de quem desde há 4 anos não entra em registo endurance. A ver vamos.

 

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

Deste Sicó até um ponto no horizonte

Penso várias vezes no Jorge Serrazina. Terá idade para poder ser um meu jovem pai ou os meus 52 anos não me deixam assim tão longe do que reza no B.I. dele?

Só me cruzei uma vez com ele. Estava humilde e simpaticamente a assegurar serviço num posto de abastecimento. Ou era nos Caminhos do Tejo ou no Caldas Ultra Trail, não me recordo. Mas tinha um ar cândido completamente ao avesso da fera dos trilhos que todos reconhecemos ser.

Enfim, penso às vezes nele pela idade e pela brutalidade de quilómetros que lhe entram nas pernas. Não terá lesões? Quanto treinará? Será ele uma exceção?

É que no meu caso - e viu-se agora nos 57k do Ultra Trail de Conímbriga Terras de Sicó - tudo é tãããããoooo difícil. Sim, eu sei que um ano inteiro de dores na inserção isquio-tibial e uma rotina que me põe mais na marquesa do fisioterapeuta do que de ténis calçados não poderá nunca ajudar.

Mas gostava de chegar um pouco mais longe. É que a minha cabeça e um conjunto de inscrições adiadas de 2020 para 2021 e depois para 2022 dizem-me que tenho umas histórias para escrever ainda este ano.

Enfim, fica para registo uma prova muito castigada pela chuva e três ou quatro horas finais de marcha rebocando um companheiro com bandeira do Luxemburgo a quem os 110kms da prova e a brutalidade da Cascata lhe estavam a queimar cabeça e pernas.


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Ultra-bizarro

Recordo-me de ter saído do Sicó com a excelente sensação de ter que marcar já a próxima ultra. E foi isso que fiz. Sem saber que aquele seria o mês de Fevereiro do mais longo e bizarro de todos os meus 50 anos de vida.

https://electropescador.pt/85026-large_default/sinaletica-vinil-laminado-uso-de-mascara-obrigatorio-40cm.jpgCom o passar dos meses e o adiamento das provas, foi-se estranhamente compondo o que poderá vir a ser o meu calendário competitivo de 2021. Mas este Outubro ainda me deixaria a oportunidade de ouvir uma contagem decrescente e de partir para 52 e picos quilómetros serra acima e serra abaixo: a Ultra Piodão.

Para saber detalhes escritos em ritmo de qualidade faz-me sentido endossá-los para o Filipe Torres e para o seu https://quarentaedoispontodois.blogspot.com/. Também ele obedeceu ao tiro de partida envergando a obrigatória máscara e também ele não percebia se tinha perdido uma posição ao ser por alguém ultrapassado. Mas certo é que me ganha na prosa. Vale portanto ler.

Da minha parte, há que falar da falta de rotinas que me fez descer largado o Colcurinho e passar os restantes 40k da história a carregar comigo uns quadríceps em dor. Chega a ser estranho que no fim tudo tenha parecido tão bem.

domingo, 1 de março de 2020

Voltar a mais


Oitenta e uma semanas e várias lesões depois, regressaram as ultras. Para a retoma estava destinado um nome mítico: o Sicó, o Ultra Trail de Conímbriga Terras de Sicó.

Não para três dígitos, mas para 57k de reconhecimento de velhas sensações e de dores que abraço (porque não têm por nome fascite plantar ou tendinopatia do Aquiles).  

Não sabendo de todo o que esperar, tudo correria bem. É certo que quase dez horas não é um algarismo de glória, mas foi certamente um dissipar das dúvidas que me acompanharam neste Sicó: o ainda consigo? o qual o impacto de uma clara falta de treinos? o como resistir ao passar do tempo?  

Agora, quero voltar a mais.